segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cartas para ninguém I



Caríssima Amiga,
Tenho-te sonhado de noite e de dia e, embora minhas vontades oscilem entre desejo e querer-te bem, minhas horas têm-te faltado na escuta honesta de todas as noites.
Não sei que raio de solidão é essa que nos insiste em compor plena madrugada a fora, contudo, ouso descrevê-la para que possas compreender minhas faltas..
Tardava a madrugar em certa noite quando vi teu canto desfeito na curva do tempo e mediquei os pássaros com sorrisos agrestes para que pudessem voltar a cantar teu nome.
Havia certa paz em mim que tu desconheceras? Quem sabe mera impressão alheia de quem passa e aos acontecimentos das noites brandas que fazia aqui nas Gerais?
Hoje tive outro sonho teu, daqueles bem indizíveis.. Coisa fosca que parecia passado, mas arriscava um futuro, sabe-se lá de quando e onde..
Trazes consigo alguma vontade minha? Quimera desprendida por entre as falhas dos risos da lua?
Aqui faz frio, trata-te de te agasalhar bem, não quero que gripes.. Contudo se gripares, divertir-me-ei ao ouvir teus espirros matutinos no quarto ao lado a me acordar...
Quisera eu poder ter esses espirros a me despertar todas as manhãs para o resto de minha triste vida diante das alegrias da tua!
Não, dulcíssima amiga, não tenho sofrido por pensar em amores. Já reconheço que entre nós a mais profunda amizade é o que sela nossa felicidade e é tudo o que me podes propor. Tenho-me por satisfeito, acredite!
Embora nossos amigos teimem em nos fatigar com tamanhos disparates sobre nossa relação, tudo o que tenho a te oferecer é meu mais sincero carinho, quem sabe à espera de um beijo, quem sabe nem pensando nisso
De fato, como na carta que me mandastes, devo te encher de confusões solertes por, a todo o momento, te mergulhar na dúvida dos meus sentimentos por ti... Não ti preocupes, Te asseguro que ante todas as possibilidades de sentimento te dedico minha amizade como uma canção em flauta doce, ou harpa de Querubim. Tenhas-te por satisfeita também...
Por fim, Doce amiga, mais que amiga, mais que nada... Escorro por entre as linhas dessa paupérrima epístola minhas mais plurais saudades da tua existência ao lado da minha. Conto cada segundo que me afasta da tua chegada à espera de que nosso reencontro se faça na trama viríl de tamanha hospitalidade que te tenho entregue muito antes de chegares.. Não tardas a chegar dulcíssima... Não tardas que meu coração se perde entre a percussão ritmada de não te ter por perto!
Amor,
Teu!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Winter Blues



A resistência das folhas em esperar o outono me comove.
Tenho observado essa luta diária em se manter no galho ainda que chova, ainda que faça frio, ainda que uma porção de outros aindas apareçam. Me sinto fraco.
Chegou o dia de admitir que não consegui. Que não importa o quanto tenha lutado, estou vencido, que meus ideais de vida programáveis não se sustentavam e haverei de voltar.
Hoje não atendi os telefonemas, se quer olhei para ver quem era... Acordei com o calor irremediável da derrota no colo. (ainda que as folhas persistam).
Tentei camuflar-me entre eles, até pus roupas que me misturavam à maré ilesa, mas meus 'tus' deflagraram a longa viagem a que me submeti para estar aqui.
Nas manhãs observo as centenas de pernas que cruzam minha rua. Apressadas, admitem seus empregos definitivos de carteira assinada e férias remuneradas.
A remela nos meus olhos, que me atrapalham a visão deflagram minha incapacidade de alcançar aquelas pernas. Meu pijama cheira a fracasso e ainda estou vivo, mas desistindo de esperar o outono no galho.
Hoje não abri as cartas, se quer sei quem as me enviou, não chequei centenas de vezes a caixa de e-mail à espera de uma resposta. Estou descrente!
Se quer consigo chorar por isso.
NÃO QUERIA VOLTAR! Não queria admitir para mim mesmo que tenho raízes profundas e que me impedem de seguir a diante. Mas é como se não tivesse partido. Que vitórias me foram entregues? Que medalhas me foram colocadas no peito?
A bravura de ter sobrevivido à distância familiar me enche de tédio! E já não suporto ouvir que sou homem porque sobrevivi à solidão! ESTOU TRISTE... Triste por perceber que não importa o quanto tenha nadado, o mar está me tragando. Não importa o quanto tenha corrido, não saí do quintal.
Vivo um simulacro de liberdade domada pelas cifras de meu pai e me chamo de Homem. Que merda de homem é esse que se quer consegue garantir a si o sustento da folha no galho, pelo menos até que o outono chegue?
Não, o frio não nos causa delírios como o calor. O frio serve de colírio para os nossos olhos, para que vejamos o real indizível, inefável, segredado por nossas amarguras infindas na noite!
Estou triste porque a volta ao início é inevitável e nem se quer consegui semear meus próprios grãos nessa terra que me disse: Fica!