terça-feira, 4 de maio de 2010

Manifesto contra o pesadume da morte


Fazer a longa Viagem! Transpassar o idílico... Por vir, até nunca chegar, mas partir. Isso é sair do eixo até se tornar o outro lado. Ou Simplesmente o Outro. Como um trajeto veloz que me leva tanto à eternidade quanto à parte alguma. Pra onde? Eu me pergunto, e de repente eu já não estava mais lá... Onde estava? Deslocar-se sem movimento dos pés. Seguir, mas o que?

Um passado no agora me tombando pro esquecimento. Estou outro ou nenhum. Etiqueta, Menino! Dizia minha mãe. Até que ela se foi, depois eu. Ficou só a etiqueta. Não! Quando eu for embora, vou deixar a porta aberta. Um passo, pouco mais que nada. Nem andar, mas pra onde? Seguia me perguntando.

O Descomeço é sempre o fim? Ou iniciar também é encerrar? O que falta é ter coragem! Se a morte é uma passagem, onde se compra o bilhete? Tudo passa, nada fica. Vida breve, descanso eterno! Viver é esperar a morte, depois que ela chega a vida parte.

Por exemplo, enquanto a vida tá jogando, a morte tá se aquecendo no canto da quadra. Viver todos os dias é morrer sempre! É estar predestinado ao fracasso sem nem saber porque. Ou à uma vitória que se tem sem suar. Depende. Estou vivo, mas até quando?

O corpo cala a vida ou a morte leva ela pra passear? Tenho medo de morrer. Dizia à um amigo. Engraçado eu tenho de viver. Ele me respondia. Vamos trocar? Combinamos! Mas eu pensava, o melhor homem é aquele que nasce morto. Porque desde o início ele já sabe onde tudo vai parar. Afinal, a morte é uma Disneylândia que ninguém volta pra explicar se é boa ou ruim, mesmo assim todo mundo põe a travessa com as orelinhas e vai!

Estar morto é partir e não ter palavras de carne pra explicar como é! A morte é um segredo que nunca foi contado. Um prato tão gostoso que ninguém quer dividir. Pra mim, bom mesmo é o cara que sabe morrer e faz por prazer! Tem gente que já morreu e continua vivendo só de sacanagem!

Pra morrer é muito simples o difícil mesmo é voltar depois e contar como se faz. O lado de lá, o lado daqui. Em que lado estarei ao partir? Aliás, eu só tenho uma pergunta: como eu faço pra voltar?

E dizem: Morri de rir, ou morri de chorar. E ainda, morri de medo. Balela! Ninguém que conjuga esse verbo na primeira pessoa e no passado diz a verdade. Quem morre aqui, vive pra onde? Quem vive aqui, morreu pro lado de lá?

Se a vida é uma novela, a morte é a tela quente? A vida vem depois da morte ou a morte vem depois da vida? Por que se não a morte seria o jornal nacional... ah não sei! Só sei que morrer é que nem entrar numa floresta sem deixar as migalhas de pão pra gente ir comendo. Faz assim, depois que eu morrer eu volto pra ti contar.

Até porque o que eu acho é que a morte é uma longa viagem rumo à parte alguma, onde quem morre fica mudo pra quem vive e quem vive fica surdo pra quem morre. O morto é um viajante bem quietinho, que disse assim: - Passagem só de ida, por favor!

A morte é igual a vida, só que é do outro lado entende? Fulano ri na cara da morte. Cicrano viu a morte bem de perto. E o que ela disse? Volta pra lá, e ele obedeceu. Quando você foi embora ficou um vazio aqui. Quando você estava aqui, havia um vazio lá? Não se sabe!

É como se uma parte de mim tivesse ido embora com ele, mas não sei pra onde. E estar morto é simplesmente se constatar que não se pode voltar. Afinal, a morte é um destino que nunca se almeja chegar e ainda assim não se erra o caminho. Nasceu chorando e morreu sorrindo: então aqui deve ser pior. Se o aqui é aqui, o lá é onde?

Quem mata abre uma porta e fecha outra, mas não conhece chave alguma. Matar é ensinar um caminho que nunca se aprendeu. Já suicidar-se é encontrar uma chave e depois perdê-la.

Por fim, o maior propósito da vida é a morte. Morrer é aprender a voar e esquecer como se anda. A morte é um tipo de tédio sem fim. O que se deve é absorver a morte como um álibi para um fim que é dado ao próprio destino de nunca chegar.

(IMAGEM by Myriam VilasBoas)

4 comentários:

Fernandila Martins disse...

Egua, teu mestrado poderia ser mais tu???? Ate t imagino declamando esse txt num palco sozinho com uma luz fraca!!!! Fazendo caras e bocas..
hehehehehehe
Marcilo, se tu vieres pra Belém com sotake mineiro vais levar uma porrada de mim!
Bjuuuuu
fernandila

Camila Barbalho disse...

Ai, como tu consegues continuar escrevendo tão lindamente bem com reflexões sobre o cotidiano e de um jeito bem-humorado? Sò tu mesmo, meu poetinha e ídolo! Morro de saudades de ti e de todo o teu talento e sensibilidade. Te amo!

=***

Unknown disse...

Morrer...é querer ficar perto do filho arrancado de ti ao nascer, e cria asas...e sai flutuando em busca de um sonho...talvez interrompido na hora de viver...ou quem sabe morrer!
Te Amo meu orgulho de viver até morrer...
Márcia Tupinambá

Nina Salgado disse...

Gente, Belém dominou os comentários!! Mas tu sabes que tem uma mineirinha aqui q adora esse sotaque e que, depois de um recado bonito de mãe, só tem a dizer: vc é o máximo!